sexta-feira, 27 de março de 2015

ATÉ SEMPRE DR. AMÉRICO CASEIRO [1947-2015]


Até Sempre Américo Caseiro [n. 27 Maio 1947 - m. 26 Março de 2015]

Só morremos de nós mesmos” [Herberto Helder]

Américo Caseiro partiu, ainda o sol não mostrava o brilho dos raios. Deixou-nos o tesouro da palavra, os nomes e rostos da claríssima luz, a ternura do tempo e da noite sem fim, o prazer e a rebelião da viagem, a lealdade fraternal, a requintada oferenda do “discurso do acordar e do adormecer” [A.C.]. Ele, que amou e viveu a vida, com radiante paixão, partiu (avançou) no seu próprio jogo. Pôs-se a caminho para urdir a sua própria sombra. E deixou-nos no nosso trivial remanso. 

À sua esposa, Mariana Alface, à sua estimada família e a todos os amigos, o nosso pesar. 

Ao Américo a eterna Saudade … e até Sempre!

Nota: o seu funeral segue hoje de Coimbra para o Crematório da Figueira da Foz, onde deverá chegar antes das 18 horas, desta sexta-feira.


Américo José Lopes Caseiro nasceu a 27 de Maio de 1947, na cidade de Coimbra, lugar que amava como poucos. Era filho de Adriano Maria Caseiro, escrivão e solicitador em Ansião e de Fernanda Godinho Lopes Caseiro

Cresci, único homem (o meu pai so chegava à noite), no seio de seis mulheres, a minha irmã muito conta como tal, e este facto traz as mais agradáveis consequências - a maior relevância para o meu pai, homem belo de 120 quilos, de humor afável e irritável, terno, dócil, violento, brutal incontestável - o meu ideal de beleza era ter 120 quilos e sentir-me belo e sedutor como em muitos dias reparei que se via” [cf. Américo J. L. Caseiro, Curriculum Vitae, 1982].

Fez a escola primária em Avelar, depois estudou no colégio de Ansião (onde frequentou brilhantemente a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e ali conheceu o Maia Alcoforado, “poeta, revolucionário civil”, republicano de têmpera, combatente contra a ditadura), passando depois para Coimbra para fazer o “complementar dos liceus” 

Em Coimbra, moço arribado ao liceu D. João III, conhece o “velho Gomes Jacobino” que lhe revela o caminho da biblioteca (vício nunca abandonado), encontra e percorre Freud e Nietzsche, deslumbra-se com Marx & Engels, invoca Camus, aparece-lhe Sartre. O coração alumia-se. Entra em 1964 para a Faculdade de Medicina da U.C. Três anos depois tem o seu primeiro casamento, de que resulta um filho encantador. Na candura de uma vida de estudo, de tentações de espelho e outros rendez-vous, foi “incapaz de passar os Arcos do Jardim” e “subir acima da Almedina”: quatro anos de “dedicação exclusiva do prazer doutras matérias” (o “sítio do pica-pau amarelo”). Licencia-se aos 27 anos. De permeio esteve “em todas as lutas de estudantes e nas outras”, ali, vertical, com o Alfredo Misarela, o Joaquim Namorado, o Orlando de Carvalho, Lousã Henriques, outros mais. 





O acordar da noite ensinou-o a gostar de Resnais, Fellini, Bergman& amp; tantos outros (o dr. Orlando adornava o alvoroço), enfaixa-se em Lacan em seminários no café Tropical e na Brasileira, Levi-straussa na baixinha em passeatas peripatéticas. A vontade de saber escorre-lhe interminavelmente. Foucault ilumina-o, tal como o vinho e o tabaco com que teorizava e vigiava. Althusser identifica-lhe os “órfãos teóricos” (os do sem pai teórico). Deuleuze & Guattari, empresta-lhe o inevitável. A psiquiatria – que pratica, usa e abusa - é para ele como a escrita de Leonardo, “para ser lida ao espelho” [A.C.]. Esteve no serviço médico à periferia (Soure, Manteigas), transita para a Clínica Psiquiátrica dos HUC (1979), faz-se exímio na profissão, (re)constrói o (im)possível. Com inquietação, mas solidamente.

O dr. Américo Caseiro, “o passáro sarapintado”, era um eterno apaixonado. Da literatura (Joyce, Thomas Mann, Dostoievski, os clássicos sempre presentes, com pontualidade e zelo), da música (que não aprendeu com “grande arrependimento e mágoa"), do cinema e teatro, tudo o movia, sempre numa respiração insubordinada, que a outros transmitia. Das suas últimas paixões deve-se referir o seu aprofundado estudo e apontamentos sobre o “Cão de Parar”, espaço de “conversação e do elogio do cão”, por nós (re)escrito a partir da narrativa assombrosa e encantadora do Mestre Caseiro.  
        
O “pássaro sarapintado” morreu porque muito amou. 

Na madrugada de 26 de Março de 2015, com toda a serenidade. 

Até sempre, dr. Américo Caseiro.

[José Manuel Martins - publicado também no Almocreve das Petas e no Almanaque Republicano]

domingo, 13 de maio de 2012

UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL – PARTE III [URBI ET ORBI]

A matilha de Alberto e Isabella nos Países Baixos, pintada por Jan Brueghel, the Elder, é o documento iconográfico mais sério e importante do tema cães de caça, nunca abaixo de Desportes, Oudry, Tillemans, Stubbs ou Reinagle.

The first time in which a pointer is painted (1623-1624)

You must see now a pointer painted by Jan Brueghel, the Elder, Brueghel de Velours, in two works [finally only in one of the two pictures] in parcery with Rubens.


LEGENDA ou comentário e hipóteses [clicar na foto]:

[A pointer in a disguised work?]

Como se pode ver, as patas do cão a que O Cão de Parar chama de pointer do séc. XVII, não são de "mano galgereña" como Barahona de Sotoindica (pág. 468) e exigia - o pointer do séc. XVII acima põe-nos à frente "patas de gato" bem redondinhas... ainda bem! Não por causa dos standards do séc. XX que devem aqui ser postos entre parênteses (estamos à frente das patas dum cão do início do séc. XVII) mas para nos lembramos da opção imperativa de Barahona de Sotopor cães de "mano galgareña" e que, por isso teria, certamente, perros de muestra disponíveis com esse tipo de patas - "patas de galgo" ou "patas de lebre". Este tipo de patas é absolutamente necessária para "... aliento y agilidad tan grande que desde mañana a la noche no dexa de correr; que ay algunos tan ligeros que parece buelan por encima de la tierra." Espinar (folha 241). Este cão de Jan Brueghel, the Elder, parece ter duas coleiras, uma que passa junta à nuca, outra junto à cintura escapular e que podem estar ligadas entre si por uma pequena trela - isto pode apontar para outra função ou outro métier do cão do tipo cão de trela e não de perro de muestra.

O que parecem ser duas coleiras poderá ser uma botte de limier e a sua plate-longe ou algo semelhante - ver, por ex: Essai sur l'éducation des animaux, le chien pris pour type, Adrien Léonard, 1842:

"Botte de limier — Collier de cuir de quatre à cinq pouces (mais ou menos 11 a3 centímetros), qu'on met au col du limier; on attache à ce collier un cuir large d'un pouce (mais ou menos 3 centímetros et long d'un pied (mais ou menos 30 cm), que l'on nomme plate-longe, au bout de laquelle il ya un touret où l'on attache le trait, qui est une corde de crin" [p. 248]


[Le pointer encore en métier déguisé cent ans après]

Na post do O Cão de Parar de 14 de Junho de 2010, "O LIMIER", em que os dois cães da figura, espantosamente, tinham morfologia da cabeça do Pointer, "dished face"ou "naso rivolto", desempenhavam o métier de limier ao modo tradicional, um como mestre e o outro como aprendiz. Repetimos esse quadro de Oudry na post UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL – PARTE I ver: [Jean-Baptiste OUDRY, "Le Roi tenant le limier", 1728.(Louis XV)] - quanto mais ampliado melhor se vê que estes cães pintados por Oudry têm eixos cranio-faciais longitudinais superiores convergentes.

Jacques Bugnion, “Les chasses médiévales”, 2005 diz (p. 137): limier: apparentée aux chiens courants mais de taille plus grand, il est toujours porteur d'une laisse et travaille au trait avec son veneur. Dans l'iconographie, on le reconnaît à son large collier; a pág. 75, Bugnion diz: ... [chiens] capables d'être de bons limiers (donc peu rapides)...; e, possivelmente, acrescentaria que sua Magestade talvez se tenha enganado ao escolher um pointer (um cão muito rápido) para a função de limier (em princípio o limier é um cão lento) - no entanto, no quadro de Oudry parece muito bem ensinado porque a trela não está tensa... - bom sinal.

* Finalmente o quadro original com o Pointer, o Frankenstein, o perro navarro ou o perro navarro agozcado, do médico Barahona de Soto - um poeta dos maiores, disse dele Cervantes *

- Ver o post "CITAÇÃO TRUNCADA QUE ARKWRIGHT FAZ SOBRE O "NAUARRO" DE ESPINAR"

* Finally, the Pointer of Boel ("Dix-sept études de différents chiens" | Museu do Louvre) is a fine and rigorous exactly copy of the Pointer of Rubens and Brueghel (Brueghel and Rubens, Diana and her Nymphs on the Point of Leaving, and Brueghel and Rubens, Diana and Her Nymphs Asleep, Musée de la Chasse et de la Nature)

* Finalement, le Pointer de Boel ("Dix-sept études de différents chiens" | Museu do Louvre) c'est une copie rigoureuse du Pointer de Rubens et Brueghel ("Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse" - vers 1623-1624 Huile sur bois, 57 x 98 cm inv. 68.3.1 et "Le Repos de Diane et de ses nymphes" - vers 1623-1624. Huile sur bois, 61 x 98 cm inv. 68.3.2, Musée de la Chasse et de la Nature)


Quadrícula com o pointer de Rubens e Brueghel, 1622-1623 / Quadrícula com o pointer de Boel (afinal uma cópia), 3º quartel do séc XVII [clicar na foto]

► ESTE POST d’O Cão de Parar trata de assunto que diz respeito ao do subtítulo do livro de Arkrwrigt: uma história com as ilustrações do pointer desde os tempos mais remotos [William Arkwright, The pointer and his predecessors, an illustrated history of the pointing dog from the earliest times, 1902, 1ª ed.]

Arkwright escreveu:

"... the other, as described by Espinar, 'so swift that they seem to fly over the ground', and, as in Dialogos de la Monteria, 'very fast so that they cover much ground'. It was evidently the navarro [o navarro de Barahona de Soto] that first found his way to England; ..., [The pointer..., 2ª ed. 1906, p. 19 e 20]

"... l'autre, dévrait pour Espinar ‘si leger qu'il semble voler au dessus du sol’, et indiqué dans les Dialogos de la Monteria comme ‘très rapide de sorte qu'il couvre beaucoup de terrain’. C'est évidemment le ‘navarro’ [o navarro de Barahona de Soto] qui est d'abord apparu en Angleterre;...", [Le Pointer et Ses Prédécesseurs, trad. par le Baron Jaubert, 1907, p. 24]

Arkwright não deixaria de publicar com todo e maior destaque este cão que "O Cão de Parar" descobriu e agora publicita. Por isso, o blog "O Cão de Parar" resolveu prestar-lhe homenagem, raramente não (sempre) embaraçada, maladroite, como sucede quando se está em dívida, na forma de um curto Foto-album. Nunca saberemos se a imagem iconográfica (passe a repetição) que é publicada pudesse ter levado a alterações substanciais do seu livro.

* Petit Foto-album de William Arkwright - legendes peut-être trompeuses... [Figures, photos and legends may be hocus-pocus] *


[WILLIAM ARKWRIGHT with an hat just in the day after has reading the book of Mary Shelley]


[WILLIAM ARKWRIGHT, himself, reading this post just before keeping his hat]

Arkkwright, "The Pointer and His Predecessors", 1906

"Britannia's work in the construction of the pointer has been done by adaptation, and by blending materials ready to hand, rather than by any heroic creation of the Genesis order. She has created no doubt, but, like Shelley's poet, she has created ‘by combination’ [p.70][Frankenstein: Mary Wollstonecraft. (Godwin) Shelley, Frankenstein, or the Modern. Prometheus, (1818); ed. (1830)].

Arkwright, Le pointer..., 1907, (trad. Jaubert, p. 84-85):

"Dans l'établissement du Pointer, la part de travail de l'Angleterre a été bien plus l'adaptation et la fusion de matérieux tout préparés qu'une création héroïque du genre de la Genèse. L'Angleterre a sans doute créé, mais, comme le poète cité par Shelley, elle a créé ‘par combination’ [Frankenstein, de M. Shelley]

Parece-nos hoje que não se deve exagerar o contributo da Britânia na construção do Pointer. A sua relevância talvez já não possa ser dita como incontornável, antes importante (mas tardia), tal como pode começar a revelar a presente iconografia disponível do Pointer. Parece-nos que uma reavaliação vai ter de ser inevitável e, naturalmente, obrigará a recomeçar (agora) o seu curso. Pode ser evidentemente lento, porque todos foram colhidos de surpresa por esta descoberta inesperada feita pelo “Cão de Parar”, por muito que venham proclamar o contrário, pois não estão (não estavam) preparados. Presumivelmente todos estão desorientados e a tentar retomar o pé. Esperemos!



[FOTO 1: Pierre-Paul RUBENS (1577-1640) et Jan I BRUEGHEL (1568-1625) - "Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse - vers 1623-1624 Huile sur bois, 57 x 98 cm inv. 68.3.1" | FOTO 2: pormenor do quadro anterior - clicar nas fotos para aumentar]

[Pierre-Paul RUBENS (1577-1640) et Jan I BRUEGHEL (1568-1625) - "Le Repos de Diane et de ses nymphes - vers 1623-1624. Huile sur bois, 61 x 98 cm inv. 68.3.2" - clicar na foto para aumentar]

O cão do quadro acima sempre me pareceu que não tinha o nariz arrebitado, isto é, não dished face (Arkwright). Não é em “forma de prato”, portanto não há convergência do ângulo formado pelos eixos craniofaciais longitudinais superiores, o que se pode verificar no livro de Claude d'Anthanaise, Le Cabinet Diane du Musée de la Chasse et de la Nature, 2007, onde este quadro de Rubens e Brueghel aparece com o nome «Diane et ses nymphes observées par des satyres», 1623-1624, e que ocupa as duas pags. 90 e 91 - o cão aparece um pouco cortado mas dá parar ver. Repare-se na foto que a seguir apresentamos.



Le Siècle de Rubens dans les collections publiques françaises: Exposition, Paris, Grand Palais, 17 novembre 1977-13 mars 1978
Os Especialistas desta Exposição fizeram nas págs. 178, 179 e 180, o estudo e davam o percurso e localização dos quadros editados a preto e branco nos títulos: 131 Diane et ses nymphes s'appêtant à partir à la chasse [Figures de Rubens et animaux de Jan Brueghel de Velours] e 132 Diana et ses nymphes observées par des satyres [Animaux et paysage de Jan Brueghel de Velours]. Ambos os quadros no Musée de la Chasse et de la Nature. Lacambre Jean, Palais Grand Foucard Jacques

A POINTER IN A STUDY OF PIETER BOEL - III Part

AQUI e AQUI nos referimos à “primeira representação iconográfica do Pointer … realizado na corte de Louis XIV” [Presentation of the oldest or first iconographic representation of the Pointer or Pointer in a Pieter Boel Study of a Louvre Museum collection].

Na verdade a impressão com que ficámos foi que o trabalho apresentado (nosso Antigo Dever) não podia esgotar a temática, com que aliás temos uma caprichosa quanto singularíssima estimação. E regressamos ao nosso laborioso responso, para exemplo aos vindouros e instrução da paróquia, seguramente mais prendados e com todas as licenças necessárias. Daqui do Vale do Mondego!

E assim sendo, após um laborioso trabalho de preparação, avançamos, neste preclaro 13 de Maio, com uma III PARTE ao post “UM POINTER NO SECÚLO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL”. Isto acontece porque atendemos ao piedoso lamento de Arkwright que se queixava [Arkwright, The pointer..., 1906] de não poder apresentar na iconografia do seu livro a cadela Tane, pintada por Alexander-François Desportes, pertencente a Louis XIV.

Ora sucede que encontrámos no site do Musée de la Chasse et de la Nature a reprodução duma cadela Tane pintada por Desportes em 1702, com cauda tufada [portanto uma épagneul diria Jacques Bugnion], podendo ser a Tane referida por Arkwright ou podia muito bem ser outra cadela ou ter-se tomado por uma pointer porque, obviamente, Arkwright não conhecia a distinção proposta por Bugnion (que não explica bem porquê) [Les chasses médiévales, 2005.p.120 na legenda da fig. da p. 121].

No entanto, parece-me que Jacques Bugnion, “Les chasses médiévales”, 2005, se explica suficientemente bem:

[p. 138] L'épagneul: Gaston Phébus décrit ce chien d'origine espagnole comme suit: un chien de taille moyenne à poil long et ondolé, au fouet en panache. Il est utilisé comme chien couchant pour la chasse au filet; comme chien d'oysel pour lever les cailles et les perdrix devant le chasseur au vol; comme rapporteur lorsque le gubier d'eau est «au plongé» … [Le livre de a chasse]

Il faut signaler que les peintres Desportes et Oudry ont reprénté les épagneuls de la cour avec fouet épilé, sans panache, terminé par un mouchet. Partout ailleurs, l'épagneul porte un fouet empanachet.

[p. 121, fig 56] - Lise en arrêt devant deux faisans. Cette chienne épagneul, dont le fouet porte un mouchet à son extrémité, appartient à Louis XV. Desportes en à fait le portrait sur ordre du roi pour Merly en 1714 (Musée de la Chasse et de la Nature, Paris)

Mas já que se estava no site resolvemos percorrê-lo [na listagem do GOOGLE havia referências a Rubens e Brueghel] e chamou-me a atenção a sala Diane, pelo que fomos ao Musée de la Chasse et de la Nature. Eis que apareceram as reproduções dos dois quadros que acima reproduzimos [infelizmente, é impossível ampliar mais] - Pierre-Paul RUBENS (1577-1640) et Jan I BRUEGHEL (1568-1625), “Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse - vers 1623-1624 Huile sur bois, 57 x 98 cm inv. 68.3.1” e “Le Repos de Diane et de ses nymphes - vers 1623-1624 Huile sur bois, 61 x 98 cm inv. 68.3.2”.

O texto que os acompanha é o seguinte:

Ces deux tableaux ont été peints par Rubens pour les figures, et Brueghel de Velours pour le paysage et les animaux. Ces tableaux à l’histoire mouvementée, constituent de rares petits formats dans l’œuvre du grand maître flamand.

La meute de l’archiduchesse Isabelle d’Autriche, régente des Pays-Bas, a servi de modèle pour peindre celle qui accompagne ici Diane
[sublinhados, nossos]. Certains chiens portent une jaque, sorte de manteau rembourré, destinée à les protéger des crocs des loups ou des défenses des sangliers. Ce détail, au même titre que le caractère hétéroclite d’une meute composée de molosses et de grands lévriers, suggère que ces tableaux se situent dans le contexte d’une chasse aux toiles ou d’un houraillement. Ces techniques consistent à affronter le gibier captif d’une enceinte où on l’a rabattu avec l’aide de puissants chiens de force. Elles comptent parmi les techniques cynégétiques les plus appréciées des cours européennes à l’époque moderne


De imediato reconhecemos que os cães dos dois quadros de Rubens e Brueghel tinham "inspirado" Pieter Boel no "Dix-sept études de différents chiens", do 3º quartel do séc. XVII e, segundo as notícias do Museu do Louvre, procedendo do Cabinet du roi, Louis XIV, numa colecção do Museu do Louvre".

[Louvre Museum Graphic Art Database]

[Diana and Her Nymphs Preparing to Leave For the Hunt Giclee Print ..]

O Pointer do "Dix-sept études de différents chiens" de Pieter Boel é, de facto, uma cópia de grande excelência. O pointer, deitado, que está a meio da linha inferior do quadro, está na (e na mesma) postura, muito característica, mordiscando ou lambendo os testículos, que os pointers dos quadros de Rubens e Brueghel: no primeiro quadro, o que está em cima, em primeiro plano e à direita da margem inferior; no segundo quadro que está por baixo do quadro anterior, o pointer está em segundo plano, um logo mais acima e um pouco mais para fora.

Não pensamos que este pointer dos quadros de Rubens e Brueghel corresponde aos navaros de que fala Barahona de Soto [ver o parágrafo acima: LEGENDA ou comentário e hipóteses [clicar na foto]: [A pointer in a disguised work?] e aos perros de muestra de que fala Martinez Espinar [ver nosso post:CITAÇÃO TRUNCADA QUE ARKWRIGHT FAZ SOBRE O "NAUARRO" DE ESPINAR]

A paixão de Rubens pela pintura de cenas de caça e atestada por Arkright usa a iconografia de Rubens - Arkwright, The pointer and his predecessors, 1ª ed. 1902. Plate VII, gravura a partir de parte do quadro de Rubens "An Autumn Landscape with a View of Het Steen".

ALBERT e ISABELLE e os Países Baixos

De 1598 a 1621, os Arquiduques Albert e Isabella dominaram os Países Baixos permitindo a esta região devassada por guerras (a especial crueldade das guerras religiosas) brilhar a nível internacional. Estabeleceram a sua Corte em Bruxelas onde desenvolveram o cosmopolitismo e uma política de mecenato que serviu de modelo às outras cortes europeias. Os Arquiduques financiaram muito largamente a expansão do Barroco flamengo rodeando-se de pintores como Jan I Brueghel e Pierre Paul Rubens - o século de Rubens teria sido inconcebível sem eles. Isabel Clara Eugenia, filha de Filipe II de Espanha, casou em 1599 com o Alberto de Austria, seu primo direito, que, depois do casamento, foi nomeado Governador Geral dos Países Baixos. Antes de ter casado, o Arquiduque Alberto foi cardeal da Santa Cruz de Jerusalém, virey e inquisidor geral de Portugal de 1583 a 1594.

Que é feito da hipótese de o “Etude de Boel” ser a ilustração dum texto perdido do Cabinet du Roy ou dum texto imaginário versando sobre quais cruzamentos a realizar entre diversos tipos conhecidos e disponíveis de cães para obter um pointer...

A hipótese que pairava e se vai mais ou menos explicitando numa das PARTES deste grupo de posts é a de o "Étude de Pieter Boel" poder ser uma ilustração de exposição (desconhecida, desaparecida do Cabinet du roi) do tipo de cruzamentos a realizar seriamente para obter pointer e para o refrescar ou melhorar, na tradição dos autores clássicos Espanhóis do séc. XVI e XVII

[e das práticas de criação, selecção e melhoramento animal que se baseiam em Buffon, Darwin, Mendel e na Genética Molecular - por ex.: Raymond Coppinger & Lorna Coppinger, Dogs: A new understanding of Canine Origin, Behavior and Evolution, 2001].

não tinha cabimento por razão e mero facto de ser uma cópia de quadros anteriores, e não cães reais do canil de Louis sobre os quais se pronunciava e instituía explicações e conjectura prováveis - só por isso, por o quadro de Boel ser uma cópia, a hipótese formulada tem que ser agora retirada ficando de reserva e na expectativa.

A ida do muito cedo de França e Países Baixos para a Inglaterra ou, pelo menos, o conhecimento precoce ou uso restrito na Inglaterra dado o shooting flying ter sido muito tardio em Inglaterra

Com toda a prudência, a título de efemérides que têm apenas alguma possibilidade de estarem ligadas a essa tal chegada precoce do Pointer - o Cão de Parar escolheu duas:

Como já se disse, o rei Louis XIII, rei de França e de Navarra, que atirava apaixonadamente ao voo e, certamente, tinha pointers vindos de Navarra e também de Espanha se necessário, dos seus canis da corte em Saint-Germain, enviou um presente a Jaime I rei de Inglaterra, escreveu Chamberlain a Carleton (1624): 'A French baron, a good falconner, has brought him [the King] 16 casts of Hawks from the French King, wiht horses and settings dogs; he made a splendid entry with his train by torch-light, and will stay till he has instructed some of our people in his kind of falconry, though its costs his Magesty 25£ or 30£ a day' (State papers of James I, Domestic Series, vol. clviii, p. 149, Arkwright, The pointer..., pág. 14) citado também por Dunoyer de Noirmont, Histoire de la chasse en France...(Volume t.2, p. 361, em nota no fim de página). Jaime I morreu no ano seguinte...

Note-se que Rubens desempenhou tarefas diplomáticas para a Infanta Isabelle e para o Arquiduque Alberto a seguir à "Paz dos 12 anos” em 1609. Foi muito activo entre as cortes de Espanha e Inglaterra e nos Países Baixos entre 1627 e 1630 tentando encontrar a Paz nos conflitos e guerras, nestes últimos. Foi armado cavaleiro por Filipe IV de Espanha em 1624 e por Carlos I de Inglaterra em 1630, recebeu também títulos Universitários em Cambridge e nas cortes era recebido como um gentleman. Não se consegue conceber melhor situação para que pudesse promover o pointer sendo co-autor dos dois quadros em que este cão figurou pela 1ª vez.

► Duas perguntas podem ocorrer ao leitor do Cão de Parar e que agora não terão resposta pois não se sabe se terão algum sentido ou se terá mesmo qualquer justificação, mas … aqui ficam porque perguntar não pode nunca ofender:

: Poderá, afinal, o pointer de Rubens e Brueghel, ter sido levado de Portugal pelo Arquiduque, que foi nomeado por Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) vice-rei de Portugal de 1583 a 1594 e não directamente da corte de Filipe II de Espanha? - Acontece que não se conhecem outros quadros em que Rubens ou Brueghel tivessem pintado cães em que o pointer em questão tenha aparecido, nem esse pointer apareceu nos quadros doutros pintores que por cá (Península Ibérica) tivessem passado ao tempo.

: Porque é que no quadro de Rubens, An Autumn Landscape with a View of Het Steen, 1636. (Het Steen foi uma propriedade que Rubens comprou no final da vida) o caçador usa um spaniel em vez de um pointer como o do quadro Diana and Her Nymphs Preparing to Leave For the Hunt?


Arkwright procurou no sítio certo e, certamente, muitos investigadores depois dele, uma provável ida muito precoce para a Flandres do navarro de Barahona de Sotoe o perro de muestra de Martinez Espinar, em Rubens, armado cavaleiro por Filipe IV de Espanha em 1624 e por Carlos I de Inglaterra em 1630, feito nobre, portanto, com direito a caçar. Nas cortes de Espanha pode ter aprendido sobre a caça directamente da nobreza, pode ter conhecido o jovem Alonso Martinez Espinar. Por vezes, quando se olha de relance para o quadro de Rubens, Un Autumm Landscape with a View of Hert Stern in the Earl Morning, 1630? 1638?. vê-se o perfil de Rubens e as suas mãos deformadas atingidas pela forma grave de gota que sofria e lhe causava dores estonteantes durante os ataques de doença, mas não o conseguiam impedir de pintar as suas figuras a uma velocidade vertiginosa, segurando a arma. Pequena biografia de Rubens - Peter Paul Rubens | artist | 1577 - 1640 | The National Gallery ...

A razão do "documento iconográfico", isto é, o quadro de Rubens et Brueghel ("Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse", 1623-16, não ter sido encontrado até agora explica-se facilmente pelos locais de estadia do seu percurso itinerante do mesmo ao longo dos anos como explicam - Anne T. Woollet e col.", Rubens & Brueghel - A Working Friendship", 2006, pág. 108 - na realidade o quadro está exposto há pouco tempo no Musée de la Chasse et de la Nature, com a iluminação atenta e apontada a Diana e suas ninfas deixando na obscuridade os cães e, sobretudo, o nosso cão a lamber e mordiscar os tomates na linha inferior do quadro e à direita e do lado oposto ao das ninfas.


[Brueghel and Rubens, Diana and her Nymphs on the Point of Leaving, Musee de la Chasse et Nature - CLICAR NA FOTO]

Na paisagem de Un Autumm Landscape with a View of Hert Stern in the Earl Morning, notam-se riachos e lagos ou zonas de rios mais largos, o que pode explicar que Rubens tenha feito a opção por um cão tipo spaniel , tradicional e canonicamente, a escolha preferencial para zonas de caça com águas - não se esqueçam - Rubens sabia muito de caça e tinha experiência de caça directa - junto às grandes cortes da Europa.


Como parece óbvio os cães do quadro “Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse - vers 1623-1624 Huile sur bois, 57 x 98 cm inv. 68.3.1" que está agora no Musée de la Chasse et de la Nature, foi comprado pelo Duque de Richelieu antes de 1677 e vendido antes de 1681 [ver Anne T. Woollet e col., "Rubens & Brueghel – A Working Friendship", 2006, pág. 108 - no slideshare 'A working frindship']terão sido copiados por essa data por Pieter Boel para o quadro "Dix-sept études de différents chiens" e tendo passado pelo Cabinet du Roi de Louis XIV foram depois para o Museu do Louvre.

COMO BRUEGHEL VAI MOSTRANDO A MATILHA DE ALBERTO E ISABEL

Podem encontrar-se alguns quadros de Brueghel referentes à caça:

com o tema chegada da caça, Landscape with Hunters, 1594-9, no Musée des Beaux-Arts, Nantes, que aparece com o nome de The return of the Hunt, 1594-95, [Jan The Elder Brueghel - WikiGallery.org.]

e com personagens da cultura e mitologia da antiguidade (como Diana) em colaboração com ouros artistas que não Rubens, tão do gosto da clientela nobre da época, como Wooded Lamdscape with Nimphs, Dogs and Hunting Spoils, 1620, que está no slideshare deste post, pág. 114.

O quadro Studies of hunting Dogs, 1615-16, Gemäldegalerie, Kunsthistorisches Museum, Vienna [Jan Brueghel the Elder - Studies of Hunting Dogs] exemplifica bem que Brueghel se dedicou ao desenho rigoroso dos cães das matilhas - outros cães, alguns dos quais singularmente bem interessantes, aparecem só nos quadros "Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse" - vers 1623-1624 et "Le Repos de Diane et de ses nymphes" - vers 1623-1624, Musée de la Chasse et de la Nature, inspirados na matilha dos Arquiduques Alberto e Isabella, entre os quais o nosso pointer com focinho "em prato", numa posição muito característica - "deitado lambendo e mordiscando os genitais". Ao quadro ou estudo Studies of hunting Dogs devem acrescentar-se os três esboços que estão no slideshare deste post, página 113.



No quadro de tema místico, atribuído a Rubens e Brueghel, the Elder, La visión de San Huberto, 1617-1620, Museu do Prado, aparecem mais alguns cães da matilha da Princesa Isabella e do Arquiduque Alberto:



Brueghel é, no quadro "Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse" - vers 1623-24, um caso singular em que foi realizada e cumprida, no tema cães de caça, a proposta de Francisco d'Olanda em "Lembrança ao mui sereníssimo e cristianíssimo rei D. Sebastião: De quanto Serve a Ciência do Desenho e entendimento da Arte da Pintura, na República da Cristã assim na Paz como na Guerra" (1571), que D. Sebastião e seus conselheiros recusaram. Para conseguir o mesmo no tema caça (no processo de caça com cão de mostra) Rubens teve que esperar para poder decidir sozinho, liberto dos gostos da sua clientela pelos temas da mitologia clássica, retirado na sua propriedade de Hert Stern, o seu quadro An Autumn Landscape with a View of Het Steen, 1636.

- Roger de Piles [clicar]

- Roger de Piles [idem]

- Teyssédre, B., "Une collection française de Rubens au XVIIe siècle: le Cabinet du duc de Richelieu décrit par R. de Piles (1676.1681)" - Gazette des Beaux-Arts 62 (1963), pp. 243-300.

É a edição crítica de Teyssédre do trabalho de Roger de Piles, "Le Cabinet du duc de Richelieu", (1676-1681):




TABLEUX DÉCRITS DANS LA SECOND CONVERSATION [p. 246]

NOTA: não são transcritas as notas do texto abaixo de Roger De Piles (pp. 268-269)

DIANE S'APPRESTANT À LA CHASSE

"L'Archiduchesse d'Austriche qui aimait extremement la chasse, et qui voulut faire peindre tous les chiens de sa meute par Breugle crut que pour avoir un Ouvrage curieux et digne d'elle, il faloit que Rubens en peignit les figures. C'est donc pour plaire à cette Princesse que Rubens et Breugle se sont accordez pour faire cet agreable Tableau. Les figures en sont petits, et n'ont pas plus de neuf pouces de hauteur: voici quelles sont.

Diane est accompagnée de sept Nymphes de sa suite, dont il y en a deux qui la aervent, deux qui l'entretiennent de la chasse, et dux qui s'habillnt et se mettnt en estat d'estre de la partie, et la septesme appelle au son du cor et ramasse les chiensw éloignez. Toutes ses figures sont traités comme ne faisant qu'un seul sweul object, ou ne composant qu'un groupe dont la Diane reçoit la plus grande lumiere, et tient la place la plus avantageuse: Elle est assise au milieu de ses Suivants appuyée sur le bras gauche, pendant qu'elle le pied droit à l'une de ses Nymphes qui luy met ses sandales; sa teste est touenée du costé du bras qui appuye. et il paroist qu'elle vient de demander quelque chose à une Nymphe qui luy respond et que luy montre le bois où l'on doit courir. Son attitude est bien d'une Maitraisse, ses attraits d'une Deesse, et l'on voit tant de graces dans les autres figures, que Diane seule est en droit de les leur disputer. Si tous ces airs sont gracieux, ils ne sont pas moins chastes; car l'on ne peut pas exprimer plus heureusement le caracter de la Cour de cette Divinité. Leur habit est fort simple, et n'est autre chose que ce que les anciens appelloient tunique longue ou stole qu'elles ont retroussée d'une maniere la plus galante du monde, et sur tout celle de Dianne qui est pourpre, et qui est accompagnée d'une petit peau de quelqu animal sauvage.

Toute ce groupe est un peu sur la droite du Tableau pour faire place à la meute composée de 34 chiens. Ces animaux ont esté faits, comme je vous ay dit, par Breugle, qui les a accompagnez d'un paisage representant un pais de forest tres agreable:il à mis son non au bas du Tableau du costé où sont les chiens, en cette sote, Jan Breughel, et Rubens a pareillement mis le sien au dessous de la Figure de Diane, par ces trois lettres P.P.R., qui veulent dire Pierre-Paul Rubens
"


Mais concretamente:

- "Le cabinet du Duc de Richelieu décrit", Teyssèdre,Bernard (1930-....)/Gazette des Beaux-arts / 1964;

- "Une collection française de Rubens au XVIIème siècle: le cabinet du duc de Richelieu décrit", Teyssèdre, Bernard (1930-....) / Gaz. des Beaux-arts / 1963;

- "Une Collection française de Rubens au XVIIe siècle: le cabinet du Duc de Richelieu, décrit par Roger de Piles (1676-1681">, Piles, Roger de (1635-1709) / P.U.F / 1963

Bernard Teyssèdre - o fundador da Iconologia como uma arqueologia não só do visível, mas também do imaginário histórico-social põe em relevo uma estética concebida no sentido duma arqueologia da iconologia generalizada, não limitada às imagens, como acontece ainda em Panofsky e aplicou esta arqueologia do visível e do imaginário social (como disse acima) aos principais temas do imaginário cristão.

Nas suas teses universitárias Bernard Teyssèdre: Roger de Piles et les débats sur le coloris au siècle de Louis XIV (1965), L'histoire de L'art vue du Grand Siècle. Recherches sur l'Abrégé de la vie des peintres, par Roger de Piles (1699), et ses sources, (1965) e Une collection française de Rubens au XVIIe siècle: le Cabinet du duc de Richelieu, décrit par Roger de Piles, editado pelaLa Gazette des Beaux-Arts, nov. 1963 (a edição crítica destes textos de De Piles) estudou a importância de De Piles na Querelle du coloris, na Teoria da Arte e da Pintura até aos dias de hoje.

Roger de Piles leva o duque de Richelieu o trocar os quadros de Poussin e a fazer uma galeria unicamente com quadros de Rubens e escreve um opúsculo entusiasta, Le Cabinet de monseigneur le duque de Rechelieu (1676, 77) sobre esses quadros de Rubens. Este opúsculo faz estourar o querela dos coloridos entre poussinistas fiéis à tradição e rubenistas que estão pela liberdade do pintor flamengo. De Piles consagra definitivamente Rubens como um dos grandes mestres da pintura europeia e impõe Rubens como modelo.

Anne T. Woollet e col.", Rubens & Brueghel - A Working Friendship", 2006, ao introduzir Pierre-Paul RUBENS (1577-1640) et Jan I BRUEGHEL (1568-1625), “Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse - vers 1623-1624:

"This painting was described by the French art critic Roger the Piles in 1677, when it was still in possession of the duke of Richelieu, un art collector and relative of the famous cardinal (5)". De Piles reported that the painting were monogrammed P.P.R. on the tree below Diana, and that Brueghel had signed it at the lower right, though these inscriptions - both probaly spurious - have meanwhile deasappearred (6). Furthermore, De Piles drew attention to the pack of hounds, which he http://www.blogger.com/img/blank.gifidentified - perhaps not incorrectly - as bellonging to the Archuiduchess Isabella, who was a great lover of dogs" [pp 108-109]

No entanto, Anne T. Woolet na nota (5) diz: " De Piles 1681... no longer mentions the painting, so it is likely that date the duke [of Richelieu] had sold it by then..."

ver Bernard Teyssèdre

NOTA: ter em conta o site mais informado sobre este assunto [em pdf]: "LES RUBENS DU DUC DE RICHELIEU PRÉCISIONS ET RÉFUTATIONS DES CERTAINES IDÉES RECUES", de Alexis Merle du Bourg.

[pág. 3-4]: C'est ce premier cabinet qui fut décrit par de Piles dans les Conversations sue la connaissance de la Peinture, et sur le jugement qu'on doit en faire des tableaux. Oú par occasion il est parlée de la vie de Rubens, et de quelques unes de ses plus beaux Ouvrages, editées par Nicolas Langlois au début de l'année 1677. La description était au coeur de la Second Conversation et ne comprenait moins de dix-neuf tableux placés dans un ordre arbitraire (comme l'indique de Piles): «Le Massacre des Innocents», «L'Enlèvement des Sabines», «Le Combat des Amazones», «La Chasse aux Lions», «La Descente de Croix», «Susanne avec les deux Vie(i)llards», «L'Andromède», «Les trois Baccanales», «La veue de Malines», «Les Vaches», «L'Arc-en-ciel», «Porto-Venere», le «Port de Cadis», «Diane s'apprestant à la chasse», «Ericton ou la curiosité des filles de Cécrope», «Le Jugement de Paris», et enfin «Le Saint George»

Christine Van Mulders, "The Collaboration Between Peter Paul Rubens and Jan Brueghel ..." - Ver: Chap. The Collaboration Betwen Peter Paul Rubens and Jan Brueghel the Elder, págs. 107 a 114

Na pág 114 (Fig. 8) JAN BRUEGHEL I and PETER PAUL RUBENS, Diana's Departure for the Hunt, Paris, Musée de la Chasse et de la Nature)

- Joost Vander Auwera, “A Genius at Work : the Works of Peter Paul Rubens in the Royal Museums of Fine Arts of Belgium
in the Royal Museums of Fine Arts of Belgium Reconsidered Joost Vander Auwera. fig. 7: peter paul rubens (and studio) and jan Brueghel I , Portrait of Archduke Albert with the Castle o/Tervuren, Madrid, Museo Nacional del Prado 113 114 fig. 8: jan ... the goddess Diana also date to these years, and includes Diana Departing for the Hunt (Paris; Musée de la Chasse et de la Nature).

- Mariet Wesrerman, A Worldly Art: The Dutch Republic, 1585-1718 , 1996, reed. 2005
O livro é muito bem apresentado nos sites obtidos numa pesquisa no google.
Amesterdão - Acompanhar a leitura deste livro com o filme de Peter Greenaway, "Rembrandt's J'Accuse"[http://io.ua/vb8da2acad51e3144dcf9d67cac1d5710] sobre o talvez mais célebre quadro de Rembrandt, The Night WatchThe Night Watch; Peter Greenway faz um filme com a sua mestria rigorosa onde vai demonstrando que Rembrandt no quadro A Ronda da Noite, revela afinal um crime cometido pelos poderosos que leva a que estes assim denunciados, não só mutilem o quadro como levam o artista rico e bem sucedido na vida, à miséria.
 ► APONTAMENTOS do cão de Hollar - A pista para a gravura nº 2049 (segundo uma gravura perdida de Jan Brueghel o velho) - a lamber os tomates na mesma postura mas em posição invertida.

Como se pode ver em:

- Gustav Parthey, Wenzel Hollar - Beschreibendes Verzeichniss seiner Kupferstiche, 1853, o nº 2049 é o etching onde está o cão a lamber os genitais na mesma postura, mas invertida, que aparece em “Diane et ses nymphes s’apprêtant à partir pour la chasse" (embora não apresente convergência do ângulo formado pelos eixos longitudinais superiores do crânio e da face ...)

Esta gravura de Wenzel Hollar nº2, P049 (ver abaixo) parece-me não ter sido ainda publicada como sendo uma cópia de Hollar dos estudos de Jan Brueghel (até agora dados como perdidos) sobre os cães da matilha que os arquiduques Alberto e Isabella (filha de Filipe II de Espanha) levaram para os Países Baixos.

Se está com muita pressa, clique já -  File:Wenceslas Hollar - Eleven hounds.jpg - Wikimedia Commons

Senão estiver com pressa, clique:
Title: Eleven hounds - Wenceslaus Hollar digital collection, Plate Number: P2049, Classification: Sports, Natural History > Sports > Hounds, etc., after van Avont



BIBLIOGRAPHY I do livro abaixo de Richard Pennington (pág. 408, 2ª coluna), publicado por:

Peter van Avont [Hounds and other animals], 1646, [P20441 - 2052]

A working friendship [Pág. 112]:

"Very little of Brueghl's studio stock of oil sketches and preparatory designes has survived. This has been compensated for to some extend by Wenceslas Hollar (1607-1677), who capied a number of Brueghel's studies of dogs, wild game, and hunting requisites in a series of etchings in 1646 (10). The etchings of the dogs studies display in reverse various animals seen in the work descussed here:..."

Na pág. 115 do livro de Anne T, Woollet, estão três dos etchings de Wenceslas Hollar, numeros 2046, 2048 e 2050 segundo os estudos perdidos de Jan Brueghel sobre a matilha (levada para Bruxelas) de Alberto e Isabella... falta, pelo menos, o 2049 indicado no trabalho de Gustav Parthey.

VER OS CATÁLOGOS de 1853 e 2002:

- "Wenzel Hollar, beschreibendes Verzeichniss seiner Kupferstiche" [p. 441 - 2041-2052 Jagdhund, Wildpret und Schafe, zum Theil nach P. van Avont; p. 443 - 2049 (9) Eilf Jagdhund in vershiendenen Stellungen; links vorn einner, der sich beleckt. Ohne Hollars Name. Breite 7 Zoll 7 Lin; 5 Hohe 5 Zoll 5 Lin.]

- "A Descriptive Catalogue of the Etched Work of Wenceslaus Hollar", de Richard Pennington, 2002 [p. 322 - 2041-2052. Hounds, et. after van Avont; p. 323 - 2049. Eleven Hounds, 115X193, 140X196: A group of eleven houds. Three are sitting in c; two are lying on far r. On far l. one is standing and barking. Unsigned. F. LBM. Pr. W. This and preceding print are probabily by H. In F., P2049 has in pencil 'Hollar fecit 1652'. The win. is a fool's cap with bells]

ALGUMAS ANOTAÇÕES:

* Richard Lawrence (aliás, John Scott), The sportsman's repository, 1845, (1ª ed. 1820), entre as págs. 114 e 115.

TENTATIVA DE TRADUÇÃO [das págs. 115 e 116]:

"O SPANISH POINTER, ou como pode ser chamado com muita propriedade o cão de correr ou sabujo (Hound) que pára e aponta, parece ter sido a origem da nossa raça Inglesa de Pointers, mas na obscuridade habitual das nossas histórias da caça, não há traços que tenham permanecido da tal data da tal importação de Espanha, ou de há quanto tempo os cães de parar (pointers) como distintos do Setters têm sido usados pelos nossos Caçadores Ingleses. Fala-se de um período de dois séculos, de cuja precisão podemos muito duvidar, por termos sido informados ou lido nalgum sítio, que, o pointer não pode ser detectado entre nós antes da Revolução de 1688. Pode haver muito mais de fantasia do que de facto, no que estamos para adiantar, mas meditámos muitas vezes na probabilidade de que os nossos caçadores antigos em vez de se terem fornecido com Pointers de Espanha, na realidade fizeram-nos em casa a partir do Southern Hound do mesmo modo que o fizeram para os Setters a partir dos Spaniels.

Tal como o Setter era originariamente uma pura variedade de Spaniel, o Pointer tem rigorosamente o mesmo grau de afinidade com o Hound, mas foi subsequentemente submetido a uma variedade de cruzamentos e intercruzamentos. A objecção da paragem natural pode ser levantada, em oposição à nossa hipótese, ou fantasia ou mistificação, seja como mereça ser chamada; mas nem todos são, talvez poucos o sejam dotados com essa alta capacidade, de qualquer outro modo que não seja de grau ligeiro e obscuro o qual partilham com o hound. Qualquer caçador, se a isso estiver inclinado, pode treinar um jovem Fox Hound ou ouro Hound, a apontar e parar, com a mesma facilidade que o pode fazer a um Porco, um dos quais a mais recente raça de caça é conhecido há muito, desde que em Hampshire tal foi conseguido e realizada essa linha. Conhecemos muitos Fox Hounds que puderam ser feitos, quando aprecia essa necessidade, Pointers excelentes e de alta qualidade; muitos hounds também possuindo excelente e poderoso faro podem provar-se laboriosos e esforçados nunca falhando como auxiliares da arma. Pensamos que a ideia de treinar um Hound (cão de correr ou sabujo) a parar poder ter aparecido integralmente em Inglaterra e em Espanha; talvez possa ter ocorrido em ambos os Países; e talvez os Spanish Pointers possam ter sido importados primeiro para este país, embora ninguém, nem nenhum livro nos possa dizer como, quando e aonde.

As características do Spanish Pointer, são estritamente análogas às do Southern Hound. A oferta de nariz e faro excepcionais junta-se à caça na sua verdade, firmeza e tenacidade de perseguição e falta de velocidade proporcional. Tal como os Cavalos de Corrida corpulentos, estes animais são algo lentos para disso se tirar lucro, com a vantagem reconhecida de que aguentam prosseguir sem se cansarem eles próprios. Têm sido apresentados, mas não sabemos com que autoridade, como aptos para pilecas facilmente cansáveis. Acreditamos que a figura dada para o leitor apreciar seja um verdadeiro fac-símile do velho, ou Sanish Pointer e o seu espírito tal como emana da sua expressão parece ter sido apanhado e marcado com verdade e facilidade pelo artista. A sua cabeça pesada, orelha, testa e cortes, parecem emblemáticas da seu peso e lassidão; o seu garrote e ombros são pouco fortes e cerrados, os últimos são encimados por uma protuberância considerável, que ocasiona um afundamento na espinha adjacente, seguido de uma elevação nos rins semelhante à dos galgos. Os membros posteriores têm ossos grossos e os pés são grandes.

Quando ou seja como tiver sido obtido o Spanish Pointer o seu melhoramento em velocidade e em utilidade real no campo, por intermédio de cruzamentos com o Fox Hound, não é matéria obscura ou de retrospectiva muito distante. A maior parte disso ocorreu no tempo da memória viva quando os nossos avós e alguns dos nossos pais atiraram com Pointers antigos e pesados..."

* "We have no belief that the ‘pointer’ came originally from Portugal or Spain, and was not known in England prior to dogs being so imported. If such had been the case we feel certain that the new dog would have had a somewhat similar name to what he had in his own country, in place of which the importation was known as the Spanish pointer. That to our mind is another indication that the pointer was already an English dog and the foreigner was recognised as a variety" [James Watson, The dog book, 1906, p.283]

"We had reached the conclusion set forth, that the pointer was developed in England from the same hound or finding dog that produced the various breeds of pointing dogs on the Continent, when, in looking through ‘Sporting Anecdotes’, 1807, we came across a very apropos statement. In Major Topham's description of 'Ancient and Modern Coursing', he writes, in connection with the sport in the time of King John and his successors: ‘The spaniel and sometimes the pointer accompanied the sportsman in what was at that period denominated coursing’. Later, in referring to the period of Queen Elizabeth and the rules which the Duke of Norfolk had then drawn up, he writes: ‘These rules, though established by a duke and regulated by a queen, rendered the coursing of that period but of a very sterile description. Pointers were used for the purpose of finding the game, and when any of these made a point, the greyhounds were uncoupled as a necessary prelude to the sport which was to ensue" [James Watson, Id. Ibidem, 1906, p.284]

O texto do Major Topham, atrás citado, pode ler-se AQUI [Ancient And Modern Coursing, by Major Topham] no "Sporting Anecdotes, Original and Selected: Including Numerous Characteristic ...", por Pierce Egan, 1822, na p. 200 e segs]

* W. Enos Phillips, "The True Pointer and His Ancient Heritage" (1970), que conhece bem Arkwright, é um autor convencido - pelos quadros de Desportes e Oudry, de Stubbs, Shooting at Goodwood, 1759 (muito anterior a Stubbs, The Spanish Pointer, 1767) e de Tillemans, "The Duke of Kingston shooting in the grounds of Thoresby Hall", 1725 -, que o pointer chegou a Inglaterra vindo de França e cita Bruette:

"Bruette in 'The complete dog book' advances the idea that the pointing dogs (I assume setter as well as pointer) originated in Spain during middle ages, and early in the 17th century crossed mountains into France and eventually found their way over England" [p.18]

"Mason [Charles H. Mason, Our Prize Dogs, 1887] takes great pains to attempt to show that the pointer probably existed earliear than 1700 and was gradually developed in England. Why all this when the dog was already in state of perfection in France and fully developed in the field?" [p. 19]

* [The Pointer] "was for long indentified as the 'Spanish' Pointer, but one still lacks documentation that can actually verify a long-held belief that he originated there. Even wealthy, dedicated William Arkwright (The Pointer and His Predecessors, 1902) who spent time and money searching Spanish archives for his magnificent book that remains the breed classic, found no support for the claim. One does not even have the support that the art of the great painters and weavers gave to the history of other Sporting breeds. Few indeed are the dogs of any kind on Spanish canvases. ... 'Spanish Pointer' came into England as a name for a dog that seems to have been introduced in the late 18th century. The Elizabethans gave no hint of having known of such a one in their earlier times. Maybe introduction was made as from the time of the British armies fighting in Flanders. The pages of all dog history, right into our own time, are crammed with evidence that after wars soldiers brought home dogs as, after cruises, sailors traditionally brought home parrots. This was the period of Spanish occupation of the Low Countries, and beyond doubt Spanish officers took their hunting dogs to war as did the British. Gentlemen wanted their recreation between battles in those times. Then, if a novel kind of dog was "acquired" ... by British officers from Spanish opposite numbers, the dog would reasonably have been dubbed 'Spanish' when his new owners took him home" - C. Bede Maxwell, 1972, "The Truth About Sporting Dogs", pags. 155, 156, 157. [refere a seguir o livro de Leopoldo Carmona]

Decerto voltaremos ao assunto [com Jean Castaing, Les Chiens d'Arrêt, 1960 - por exemplo] e a outros folhetos.

► ALGUNS SITES WEB a consultar: Musée de la Chasse et de la Nature / Rubens & Brueghel: A Working Friendship

LAST BUT NOT THE LEAST  [RELACIONADO]
VdC (Vladimir de Castro), Presidente do CFPP  - [CLUB FRANÇAIS DU PERDIGUEIRO (BRAQUE) PORTUGAIS] publicou em primeira mão no "Perdigueiro", Bulletin du CFPP de 2006, uma quadrícula retirada do quadro de Jan Brueghel, o Velho, Wedding Banquet Presided Over by the Archduke and Infanta, ca.1612.
O Cão de Parar publicou sexta-feira, 16 de Março de 2007 essa quadrícula atribuindo, erradamente, o quadro a Peter Brueghel.

A quadrícula mostra um cão que pode perfeitamente, e pode muito bem, ser considerado um antepassado do Perdigueiro Português e, pode também, ser considerada uma observação muito pertinente e sagaz - quem o negará!

Parece, razoavelmente, poder considerar tratar-se de um cão diferente do cão de Jan Brueghel, que consideramos neste post, por causa da exuberância da convergência do ângulo formado pelas linhas craniana e faciais longitudinais superiores neste cão. Em todo o caso a primazia da descoberta é do dr. Vladimir de Castro e, de facto, o Cão de Parar pode ter cometido um erro involuntário ao dizer no sub-título: "The first time in which a pointer is painted (1623-1624)"- é que pode muito bem ter sido a segunda vez (se for o mesmo cão, como pode ser, mas em duas posturas diferentes o que pode confundir o observador mesmo mais sagaz, prudente e cuidadoso - como se sabe e se tem repetido muitas vezes) que tal cão pode ter sido apresentado.
Fica assim esclarecida esta questão, com a devida vénia e desculpas inevitáveis - a verdade é a verdade, os factos são os factos. Ao Bulletin du CFPP e ao dr. Vladimir de Castro, o mérito é o mérito - e merecido destaque, suponha-se.
LER a I e II PARTE [AQUI]:

* UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL – PARTE I

* UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL (EXCURSO) – PARTE II

[NOTA: contém aditamentos posteriores á data do post inicial]